A GRALHA AZUL DA POESIA
Mulher agricultoralança livro de poemas na Feira da UFSC
Lançamento será no dia 7 de março, durante a Feira de Livrosda Editora da UFSC, na Praça da Cidadania, com a presença da autora, que étambém professora aposentada e voluntária social
Agricultora, agente comunitária eprofessora aposentada, Leonilda Antunes Pereira, 59 anos, não se casou nem tevefilhos. Mas na pequena propriedade que mantém com o irmão em Rio Mansinho, nointerior de Fraiburgo, parece ter adotado como parte da família tudo que voa,tudo que zurra, tudo que é verde, tudo que é vida. O amor pelo silêncio do lago,pela algazarra dos pássaros, pela lida com o velho jumento marchador do nordesteque o avô materno lhe confiou antes de morrer e por toda a bicharada que desfilaem suas poesias é tão grande quanto o amor que tem pelas causas sociais e pelosseres humanos. Gralha Azul, nas asas daesperança, que a Editora da UFSC lançano dia 7 de março, às 17 horas, em sua Feira de Livros de volta às aulas,é um livro onde essa mulher do campo registra com densa singeleza, seuencantamento pelo convívio com a natureza e pelas possibilidades do trabalhosocial voluntário.
As duas vertentes dessa poesianarrativa que lembra um cordel do planalto catarinense estão bem sintetizadaspelo símbolo da gralha azul, nome do programa social e ambiental que elahomenageia no livro. Ao mesmo tempo em que pinta o mundo com seu azulexuberante, o pássaro faz sua tarefa social e ecológica: semeia o fruto dopinhão, ajuda a salvar a araucária da extinção e preserva a fonte de renda dasfamílias pobres do oeste serrano. Como opássaro semeador, Leonilda é agente comunitária de saúde pelo município deFraiburgo e membro do Conselho Municipal Antidrogas (Comad) e do ProjetoMicrobacias.
O lançamento do primeiro livro deLeonilda, que estará a partir das 14 horas na Praça da Cidadania da UFSC paraconversar com os leitores, marca as comemorações do Dia Internacional da Mulhere o reconhecimento do Conselho Editorial da EdUFSC a um tipo de expressãoescrita valorizada pelos Estudos Culturais como “Literatura dos Excluídos”, quevai além da obra e do padrão estético aprovado pelas academias. “Nela, oestético está comprometido com o campo político e existencial da autora, queenvolve sua prática social pelapreservação da terra e promoção do homem do campo”, assinala o editor, SérgioMedeiros.
Desde menina, Lula, como éconhecida por toda gente, afeiçoou-se ao hábito da leitura e da escrita,inspirada no avô Antonio Antunes Abrão, que embora sem nenhuma escolaridade,era um grande amante da poesia. Ele costumava reunir ela, irmãos e primos emvolta da lareira para contar histórias em forma de versos. “Eu o ouvia eadmirava... Com o tempo, a escrita passou a ser uma necessidade. Vejo a natureza,veja as coisas acontecerem... Quando surge a vontade de criar eu me levanto demadrugada, seja a hora que for, pra colocar no papel uma inspiração”.
Nascida em Lebon Régis em 1952, Lulaconta que dava aulas como professora de escolas seriadas na cidade de Fraiburgo,mas decidida a mudar de vida, migrou para uma área ainda mais rural, onde setornou agricultora. Foi nesse meio que abraçou trabalhos sociais de apoio econscientização a famílias carentes sobre condições de saúde, meio ambiente,prevenção de dependência a drogas e alcoolismo. Em 1991, participou junto comoutras mulheres da primeira reunião do Gralha Azul, programa de orientação àsaúde e à cidadania de famílias sem-terras. Chamou atenção do grupo por suaeloqüência e foi convidada para integrá-lo. A reunião dos originais parapublicação do livro foi incentivada pelos próprios técnicos da equipe. “Eles éque me fizeram dar valor ao que eu escrevia”, conta.
RITMO DA NATUREZA
A maior parte dos poemas sãoregistros rimados das etapas que vivenciou no programa, onde permaneceu atuandocomo voluntária durante 21 anos, até o projeto ser extinto. A ele a autoradedica muitos versos: “Gralha Azul é uma ave/Que habitava o nosso chão, Quepela sobrevivência/Sabia plantar pinhão./Hoje pela incoerência/Está quase emextinção,/Porque o belo pinheiro/ Já não existe na região. Agora empresta seunome/ Nessa grande missão, /Para mostrar ao ser humano/ O que épreservação,/Com isso dizer ao mundo / Que ao amor e humanidade/ Nos faz todosirmãos./”
No trabalho voluntário, ela usa alinguagem poética, a contação de histórias e também a montagem teatral parasensibilizar principalmente as crianças do Assentamento Rio Mansinho e dacomunidade de Catiras para a necessidade de preservação da terra onde vivem ede se afastarem das drogas e do alcoolismo. “Se eu não conseguir reverter a situação dos mais velhos, não vou deixaras crianças irem para o caminho dadestruição”. A aproximação com as artes cênicas foi, segundo ela, provocadapela diretora do Grupo Pesquisa Teatro Novo da UFSC, Carmen Fossari, que semprea incentivou.
Os versos misturam personagenshumanos e inumanos que atravessam seu cotidiano. A defesa da igualdade entre todos os seresherdou do pai, José Antunes Pereira, grande amante da natureza e defensor dosanimais. “Tenho paixão pela vida animal e acho muito importante para o serhumano essa convivência. Pra mim o bicho tem tanto sentimento quanto a gente;tem compreensão e tudo”. Conta que em sua propriedade, chamada Síto Pai Tejo,em homenagem ao pai, os animais quase falam com ela: “É muito gratificante essavida”.
Lula, que nunca conheceu oex-presidente da República, mas já era chamada assim antes de saber da suaexistência, termina todos os seus poemas se apresentando, à moda dos trovadores,como em “Estrelinha da manhã”: “Como pode um ser tão pequeno/Conter uma almatão grande?/Queria escrever coisas bonitas/ Mas meu ser se encabula/ Recebe aflor do meu agradecimento/ E um grande abraço da Lula”. Longos e marcados porum vocabulário simples e rimas cheias, os versos mostram trabalho e fôlego depoeta. Além de uma estética própria, a obra carrega um valor histórico, àmedida que cita pessoas, acontecimentos e cenários implicados nessa “ação azul”que une arte, cultura, ecologia e cidadania.
A poesia de Lula tem um ritmoalusivo à vida rural, como em “Canção dos Animais”, em que as estrofes sãosempre intercaladas pela marcação do verso “O cravo...”: “Minha gente com licença/Agora vamos brincar/Euma bela canção/Nós aqui vamos cantar./Aprendemos que o roçado/ Não devemosentão queimar./ Como fica a bicharada/Onde é que vão morar./ O cravo...Aprendemos direitinho/Fazer a preservação/Com o povo da capital/E os daqui daregião./Bicharada tão contente/Agradece comovida,/Pois é muito importante/Preservar sua vida./ O cravo...”
Embora sendo seu primeiro livropublicado, Lula participou de alguns concursos literários através de editorasem São Paulo e foi selecionada para antologias. Completou o segundo grau e cursoudois anos de letras português, em Palmas, no Paraná. “O livro é a coroação, avalorização do meu trabalho, de tantos anos de dedicação. É um prêmio que eujamais me considerava capaz de alcançar, um sonho que parecia irrealizável,pois eu não teria condições financeiras de publicar meu livro”, diz ela, quetem mais uns 70 poemas guardados, prontos para uma nova oportunidade.
Texto: RaquelWandelli
Assessora deComunicação da SeCArte/UFSC
37218729 e 37218910 e99110524
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Leveza,
Poesia,
É arte no trabalhar,
Daquela,
Que simples,
Sempre é,
Mulher.
EuCor Reprime Brasil
Estudo Cinematográfico Utopista Onipresente Regionalista
Mulher agricultoralança livro de poemas na Feira da UFSC
Lançamento será no dia 7 de março, durante a Feira de Livrosda Editora da UFSC, na Praça da Cidadania, com a presença da autora, que étambém professora aposentada e voluntária social
Agricultora, agente comunitária eprofessora aposentada, Leonilda Antunes Pereira, 59 anos, não se casou nem tevefilhos. Mas na pequena propriedade que mantém com o irmão em Rio Mansinho, nointerior de Fraiburgo, parece ter adotado como parte da família tudo que voa,tudo que zurra, tudo que é verde, tudo que é vida. O amor pelo silêncio do lago,pela algazarra dos pássaros, pela lida com o velho jumento marchador do nordesteque o avô materno lhe confiou antes de morrer e por toda a bicharada que desfilaem suas poesias é tão grande quanto o amor que tem pelas causas sociais e pelosseres humanos. Gralha Azul, nas asas daesperança, que a Editora da UFSC lançano dia 7 de março, às 17 horas, em sua Feira de Livros de volta às aulas,é um livro onde essa mulher do campo registra com densa singeleza, seuencantamento pelo convívio com a natureza e pelas possibilidades do trabalhosocial voluntário.
As duas vertentes dessa poesianarrativa que lembra um cordel do planalto catarinense estão bem sintetizadaspelo símbolo da gralha azul, nome do programa social e ambiental que elahomenageia no livro. Ao mesmo tempo em que pinta o mundo com seu azulexuberante, o pássaro faz sua tarefa social e ecológica: semeia o fruto dopinhão, ajuda a salvar a araucária da extinção e preserva a fonte de renda dasfamílias pobres do oeste serrano. Como opássaro semeador, Leonilda é agente comunitária de saúde pelo município deFraiburgo e membro do Conselho Municipal Antidrogas (Comad) e do ProjetoMicrobacias.
O lançamento do primeiro livro deLeonilda, que estará a partir das 14 horas na Praça da Cidadania da UFSC paraconversar com os leitores, marca as comemorações do Dia Internacional da Mulhere o reconhecimento do Conselho Editorial da EdUFSC a um tipo de expressãoescrita valorizada pelos Estudos Culturais como “Literatura dos Excluídos”, quevai além da obra e do padrão estético aprovado pelas academias. “Nela, oestético está comprometido com o campo político e existencial da autora, queenvolve sua prática social pelapreservação da terra e promoção do homem do campo”, assinala o editor, SérgioMedeiros.
Desde menina, Lula, como éconhecida por toda gente, afeiçoou-se ao hábito da leitura e da escrita,inspirada no avô Antonio Antunes Abrão, que embora sem nenhuma escolaridade,era um grande amante da poesia. Ele costumava reunir ela, irmãos e primos emvolta da lareira para contar histórias em forma de versos. “Eu o ouvia eadmirava... Com o tempo, a escrita passou a ser uma necessidade. Vejo a natureza,veja as coisas acontecerem... Quando surge a vontade de criar eu me levanto demadrugada, seja a hora que for, pra colocar no papel uma inspiração”.
Nascida em Lebon Régis em 1952, Lulaconta que dava aulas como professora de escolas seriadas na cidade de Fraiburgo,mas decidida a mudar de vida, migrou para uma área ainda mais rural, onde setornou agricultora. Foi nesse meio que abraçou trabalhos sociais de apoio econscientização a famílias carentes sobre condições de saúde, meio ambiente,prevenção de dependência a drogas e alcoolismo. Em 1991, participou junto comoutras mulheres da primeira reunião do Gralha Azul, programa de orientação àsaúde e à cidadania de famílias sem-terras. Chamou atenção do grupo por suaeloqüência e foi convidada para integrá-lo. A reunião dos originais parapublicação do livro foi incentivada pelos próprios técnicos da equipe. “Eles éque me fizeram dar valor ao que eu escrevia”, conta.
RITMO DA NATUREZA
A maior parte dos poemas sãoregistros rimados das etapas que vivenciou no programa, onde permaneceu atuandocomo voluntária durante 21 anos, até o projeto ser extinto. A ele a autoradedica muitos versos: “Gralha Azul é uma ave/Que habitava o nosso chão, Quepela sobrevivência/Sabia plantar pinhão./Hoje pela incoerência/Está quase emextinção,/Porque o belo pinheiro/ Já não existe na região. Agora empresta seunome/ Nessa grande missão, /Para mostrar ao ser humano/ O que épreservação,/Com isso dizer ao mundo / Que ao amor e humanidade/ Nos faz todosirmãos./”
No trabalho voluntário, ela usa alinguagem poética, a contação de histórias e também a montagem teatral parasensibilizar principalmente as crianças do Assentamento Rio Mansinho e dacomunidade de Catiras para a necessidade de preservação da terra onde vivem ede se afastarem das drogas e do alcoolismo. “Se eu não conseguir reverter a situação dos mais velhos, não vou deixaras crianças irem para o caminho dadestruição”. A aproximação com as artes cênicas foi, segundo ela, provocadapela diretora do Grupo Pesquisa Teatro Novo da UFSC, Carmen Fossari, que semprea incentivou.
Os versos misturam personagenshumanos e inumanos que atravessam seu cotidiano. A defesa da igualdade entre todos os seresherdou do pai, José Antunes Pereira, grande amante da natureza e defensor dosanimais. “Tenho paixão pela vida animal e acho muito importante para o serhumano essa convivência. Pra mim o bicho tem tanto sentimento quanto a gente;tem compreensão e tudo”. Conta que em sua propriedade, chamada Síto Pai Tejo,em homenagem ao pai, os animais quase falam com ela: “É muito gratificante essavida”.
Lula, que nunca conheceu oex-presidente da República, mas já era chamada assim antes de saber da suaexistência, termina todos os seus poemas se apresentando, à moda dos trovadores,como em “Estrelinha da manhã”: “Como pode um ser tão pequeno/Conter uma almatão grande?/Queria escrever coisas bonitas/ Mas meu ser se encabula/ Recebe aflor do meu agradecimento/ E um grande abraço da Lula”. Longos e marcados porum vocabulário simples e rimas cheias, os versos mostram trabalho e fôlego depoeta. Além de uma estética própria, a obra carrega um valor histórico, àmedida que cita pessoas, acontecimentos e cenários implicados nessa “ação azul”que une arte, cultura, ecologia e cidadania.
A poesia de Lula tem um ritmoalusivo à vida rural, como em “Canção dos Animais”, em que as estrofes sãosempre intercaladas pela marcação do verso “O cravo...”: “Minha gente com licença/Agora vamos brincar/Euma bela canção/Nós aqui vamos cantar./Aprendemos que o roçado/ Não devemosentão queimar./ Como fica a bicharada/Onde é que vão morar./ O cravo...Aprendemos direitinho/Fazer a preservação/Com o povo da capital/E os daqui daregião./Bicharada tão contente/Agradece comovida,/Pois é muito importante/Preservar sua vida./ O cravo...”
Embora sendo seu primeiro livropublicado, Lula participou de alguns concursos literários através de editorasem São Paulo e foi selecionada para antologias. Completou o segundo grau e cursoudois anos de letras português, em Palmas, no Paraná. “O livro é a coroação, avalorização do meu trabalho, de tantos anos de dedicação. É um prêmio que eujamais me considerava capaz de alcançar, um sonho que parecia irrealizável,pois eu não teria condições financeiras de publicar meu livro”, diz ela, quetem mais uns 70 poemas guardados, prontos para uma nova oportunidade.
Texto: RaquelWandelli
Assessora deComunicação da SeCArte/UFSC
37218729 e 37218910 e99110524
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Poesia,
É arte no trabalhar,
Daquela,
Que simples,
Sempre é,
Mulher.
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